terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

A doce morte do velho Adamastor.

A vida do pobre velho parecia consistir em, nada mais do que uma estada no purgatório. Sozinho, sem família, sem dinheiro, sem nada interessante acontecendo em sua maçante vida. Trabalhava na Faculdade Santo Antônio limpando o chão e cuidando do jardim. Era de pouca conversa, pouco falava com os colegas de trabalho, nem com os alunos da faculdade. Tinha um aspecto físico frágil, bem magro e o rosto já bem envelhecido.

Estava escalado para trabalhar na Faculdade de Medicina da Santo Antônio, e lá estava ele a limpar o chão, passando quase despercebido pela maioria dos jovens alunos da faculdade de Medicina, e que pagavam mensalidades para estudar lá maiores que o ordenado mensal do velho Adamastor. Pertenciam a outro mundo, que não era o do pobre velho.

Mas nem todos tratavam a presença do velho com indiferença, havia alguns rapazes e moças que gostavam de conversar com ele. Ele era uma pessoa muito humilde, educada e simpática, embora fosse de pouco esclarecimento. Além disso, era extremamente diligente no cumprimento de seu trabalho. Trabalhar é o que ele fez durante toda sua vida. Desde pequeno. Uma de suas maiores alegrias era tomar uma xícara de café na cantina da faculdade e fumar um cigarrinho antes de começar o trabalho. E outro cigarro depois do trabalho.

"Bom dia Seu Adamastor." - dizia o jovem estudante Marcos, um dos que gostavam de conversar com o velho.

"Bom dia". Ele respondia alegremente e oferecendo um sorriso. Gostava quando comprimentavam-no, ele também era muito cordial com os estudantes.

Certa manhã, estava ele a cuidar do jardim da faculdade. Chegara às 5 h da manhã, mais cedo que o habitual para fazer o trabalho de jardinagem. Cortou algumas folhas que estavam sobrando e fazia isso com admirável habilidade. E que belo era o jardim da faculdade, e muito bem cuidado. Cuidado pelo Seu Adamastor, dava gosto de ver. Era um jardim muito amplo e bonito,  que realçava o imponente prédio da faculdade, dando ao lugar um aspecto de palácio.

Havia terminado o trabalho e estava a descansar, as ferramentas que usara e o saco com folhas e galhos cortados estavam sobre a grama do jardim.

"Bom dia seu Adamastor, já tá no cigarro?"

"Bom dia, Mariana. Ah, sim tem que ser, né?."

"Nossa, o jardim está lindo. O senhor manda muito bem mesmo. Parabéns."

Ele conversava com Mariana, alunda da faculdade de medicina. A sua pele bem clara constrastava com seus cabelos e olhos bem negros. Tinha os traços do rosto bem finos, olhos e boca pequenos e um nariz fino e pontudo. Carregava sempre um sorriso para os colegas e demais funcionários da instituição, mesmo os da limpeza, cozinha e jardinagem, não fazia distinção social alguma. Para ela, todo ser humano é igual, independente de que posição social o mesmo pertencia.

"Muito obrigado, querida. Sempre foi minha paixão cuidar do jardim e deixar assim bonito."

" E o senhor faz isso muito bem. Bem, agora tenho que subir pra aula, até mais Seu Adamastor."

"Até mais, linda."

Ela se vira e se dirige ao prédio da faculdade. Era essa simpatia de alguns alunos como a Mariana que alegrava o Seu Adamastor. Ele ficou muito feliz com os elogios que recebera da bela jovem estudante de medicina. Ela sabia reconhecer a importância de todas as profissões, mesmo aquelas que não eram prestigiadas socialmente.

Assim era a maçante rotina do velho Adamastor, sua vida se resumindo a trabalho, nada de interessante acontecia. Gostava de estar no meio dos alunos, de conversar com eles e claro, de fumar um cigarro depois do seu expediente.

Mariana era uma excelente observadora, a intuição natural feminina nela parecia ser bem mais aguçada, e ela percebia que o velho estava sempre a olhar para seus pés no meio das conversas que tinham na faculdade. Certa vez ela, de popósito, comentou com ele:

" Minha Melissa é bonita né seu Adamastor?"

"É sim."

Mariana ria-se.

E assim iam se passando os dias na rotina enfadonha do velho Adamastor.

Até que certa manhã, as aulas já acabando, aconteceu um evendo incomum na rotina do velho: ele limpava o banheiro da faculdade, finalizando sua tarefa, já perto de 12h da manhã, notara que havia poucas pessoas no prédio. Marcos, um dos estudantes de medicina que gostava de conversar com o velho, comprimenta-o.

"Olá Seu Adamastor, como o senhor está?"

"Opa, tudo bem Marquinho, terminei ali de limpar o banheiro já estou indo almoçar..."

"Vai almoçar na cantina?"

"É lá mesmo, todo dia almoço lá."

"A comida de lá é muito boa."

"Opa, boa demais, dona Lourdes põe pa quebra."

"Já almocei lá muitas vezes, e posso confirmar que, de fato, é excelente a comida de dona Lourdes."

"Demais. E aí como foi na aula?"

"Muito boa, estávamos na aula de anatomia. Gosto muito dessa parte."

"Estuda as partes do corpo, né ?"

"Sim,  hoje estávamos estudando os ossos do corpo humano. São muitos os nomes dos ossos."

"Eu ouvi dizer, que até dentro do ouvido temos ossos, né?"

"Sim, o estribo, a bigorna."

"Nossa, eu não sei nem dizer esses nome complicado, é cada nome difícil..."

Marcos ria-se: "É assim mesmo seu Adamastor. Bem eu vou indo."

"Você vai ter aula  de tarde?"

"Sim, hoje teremos aula a tarde."

"Marquinho, parece que não tem ninguém mais no prédio, todo mundo foi embora."

"É, parece que eu sou o último mesmo. Todo mundo já deve ter ido embora."

" É, já fôru tudo. Até mais Marquinho."

"Até mais Seu Adamastor. Bom almoço pro senhor."

"Brigado Marquinho, pra você tamém"

Marcos dirige-se para fora do prédio, enquanto o velho Adamastor ajeita os baldes, rodos, luvas e demais equipamentos no carrinho de limpeza para levar para fora, quando de repente de dentro de uma sala, surge Mariana, que estava sozinha revisando suas anotações. Ela percebe a presença do velho Adamastor que caminhava em direção à saída.

"Seu Adamastor!"

"Eu.."

"O senhor ainda está aí?"

"Tô, tava limpando o banheiro, já terminei, agora to indo almoçar."

Ela aproxima-se dele e dá um beijo no rosto. O velho ficava todo feliz com esse tipo de carinho da moça para com ele.

"O senhor é muito trabalhador, e sei que deve estar cansado."

"Que nada, tô tranquilo, só limpei o banheiro, tudo bem..."

Se o velho tinha uma qualidade que merece ser destacada era a de que era um grande trabalhador. Um incansável, uma máquina de trabalhar. E não era nada mais que isso que o velho passou a vida toda fazendo. Trabalhar. Trabalhar sem cansar. Era sua obsessão. Obsessão a tal ponto que deixava de ser uma qualidade e passava a ser um defeito.

"Quero te pedir um favorzinho, apesar de já ter tido tanto trabalho limpando o banheiro."

"Tô tranquilo Mari, pode falar..."

"Sabe, estou tão cansada, faz uma massagem em meus pés."

O velho achou estranho tal pedido, mas ao mesmo tempo gostou muito. Mariana, por sua vez, esperta e com o senso bem aguçado, queria investigar aquelas estranhas olhadas que ela notou que o velho dera em seus pezinhos.

"Vamos ali na sala para eu me sentar?."

"Vamo sim."

Eles se dirigem à sala, Mariana na frente, ela senta em uma das carteiras da sala já vazia, pois terminara a aula, e  o velho abaixa-se na frente dela. Ela apoia os dois pés em cada ombro do velho, ela estava de sapatilha, e pede para o velho as tirarem. Ele o faz. E começa a massagear cada pezinho de Mariana.

Mariana tinha pezinhos pequenos e branquinhos, tamanhos 36, dedinhos curvos e curtos, as unhas com uma base incolor e cortadas curtinhas, estava com um cheiro forte de suor, pois estava sem meias desde de manhã com os pés presos na sapatilhas, e com os pés suados, afinal estava fazendo um certo calor naquele dia. Ela pedira a massagem nos pés porque queria averiguar aquele interesse peculiar do velho Adamastor em seus pés, manifesto através de longos olhares para baixo, em direção a eles. Ela era uma pessoa muito esperta e informado, e já ouvira falar a respeito de tal parafilia, em que a pessoa possui uma fixação pelos pés do sexo oposto.

O velho exibia em seu rosto uma feição de espanto e consternação pela situação, o que divertia muito Mariana. Ela desconfiava que ele estava gostando e estava disposta a provocá-lo ainda mais.

"Diga-me uma coisa, mas tem que ser sincero Seu Adamastor..."

"Sim.." - sua voz fraca, quase não saía, estava profundamente consternado com o excêntrico pedido de Mariana.

" Meus pés são bonitos?"

Adamastor coloca o pezinho de Mariana em frente do seu rosto e lança-o um olhar observativo.

"Seu pezinho é muito bonito."

Mariana ri, e indaga novamente: "Sério?"

O velho confirma: "Sim" A voz do velho havia mudado completamente o tom em relação a quando estava conversando com a estudante no corredor. Mariana nunca ouvira aquele tom de voz antes,  era um tom de voz trêmulo, parecia estar assustado. Mas Mariana estava se divertindo muito com a situação. Tanto que procurou investigar mais a fundo até onde ia a "fixação" do velho pelos seus belos pezinhos pequenos. A massagem que o valho fazia nos pés de Mariana prosseguia, enquanto conversavam.

" Desculpe se estiverem com chulé, hoje está fazendo muito calor."

"N-Não tem pobrema Mari..."

"Eles estão com chulé?"

"Não tô sentindo nada" - mentia o velho Adamastor: o cheiro dos pezinhos suados de Mariana - recém tirados da sapatilha -  exalava em volta, e o velho sentia. Sentia mas estava adorando, para ele era como um perfume tão gostoso daqueles que havia muito tempo que não havia sentido o cheiro. Tanto tempo, que ele não poderia lembrar quando, em sua longíqua vida, havia sentido um perfume mais agradável do que aquele que vinha dos pés da estudante Mariana.

Ela, por sua vez, continuava a se divertir com a situação:

" Como não está sentindo? Eu caminhei tanto hoje nesse calor e suei, estou sentindo daqui..."

O velho gaguejava e não sabia o que responder.

"É... Mas não tem problema."

"Não tem problema?"

"Não..."

"Até que é bom o cheiro, né?" - astuta, ela perguntava como quem era inocente.

O velho titubeou, mas respondeu: " É sim.."

Mariana ria. E, então, indagou com um falso ar de suspresa: "É sério que é bom?"
Ela estava manipulando o pobre e ingênuo velho de maneira magistral,  e ele gaguejava atrapalhado quando notava que caíra em contradição, contradição que ela conduzia o velho a cair, e ela mesma acusava a contradição logo em seguida.

" Como pode ser bom o cheiro do meu chulé?" Ela ria-se muito. "É sério isso, Seu Adamastor?"

O pobre velho consternado, nada pôde responder, apenas continuava com a massagem nos pés de Mariana.

Ela não se cansava, e então colocou o seu pezinho perto do nariz do velho, de maneira que ele chegava a tocar sua boca e nariz.

"Cheira, me diga se é bom mesmo?"

O velho tentava disfarçar, apesar de estar com muita vontade de cheirar, não o fez. Ele estava tentando se controlar. Apenas disse, então, com uma voz que parecia não querer sair da garganta: "Não é ruim não" .  A manipuladora ria ainda mais com as repostas do velho.

Mariana, versada que era na traissoeira arte da manipulação, continuava a azucrinar a cabeça do pobre velho cansado: " Fala a verdade, Seu Adamastor, meu pezinho é muito cheiroso, né,?"
Mais uma vez ela levava o pé ao nariz do velho e ordenava que cheirasse e dissesse se era bom mesmo o cheiro de seu pezinho. Ele, sem inalar, apenas confirmava que era bom. Ela insistia: "Como sabe que é bom se o senhor nem cheirou?" E continuava a rir. "Cheira, faz assim:" E respirava fundo para demosntrar ao velho como ele deveria fazer. "Vai." Ele, então, finalmente, respirou fundo com o pezinho de Mariana em seu nariz. O cheiro que adentrava com intensidade suas narinas e seu pulmão causava uma imensa sensanção de prazer no velho, que fazia seu velho coração bater mais rápido, e fazia-o arrepiar, sensações essas que ele não sentira há um longo tempo, ele nem poderia lembrar exatamente há quanto tempo. "De novo vai." E inspirava novamente , demonstrando como o velho deveria fazer. E assim ele fazia. Ela ria-se. "Mais uma vez." Novamente ela respirta fundo, dando o comando para o velho fazer o memso. E ele fez novamente, fechando os olhos, em transe.

Boba era uma coisa que Mariana não era, e aquela situação já foi mais do que bastante para que ela percebesse que o velho adorava o cheiro do seu pezinho. Ela não parava de rir, e de se divertir muito com aquela situação. "Então meu pé é bonito e cheiroso, segundo o Seu Adamastor, correto?"

"Correto."

"Então dá um beijinho neles ué." - ela não parava de rir. E ele deu um beijo no seu pé. "Nos dois, dê vários beijos nos meus pezinhos." O velho então, passou a beijar seus pezinhos, alternava beijos entre um pezinho e outro da estudante. Segurava os pés da jovem com tal cuidado e carinho, como se fossem duas joias preciosas que estavam perdidas no oceano, e ele, depois de anos buscando, encontrara. Ela percebia isso e achava aquilo de certa forma meigo.

"Ah que lindinho. Seu Adamastor, eu gosto muito do senhor. O senhor é muito gente boa."

"Brigado." Ele estava adorando aquela situação. Situação, que  não era apenas o auge do seu dia, mas talvez o ague da sua vida inteira.

E Marina ia ainda mais longe: "Bom, meus pezinhos são bonitos e cheirosos, mas será que tem um gosto bom?"

O velho olhou para ela, e ela  deu um belo sorriso. O velho perguntou: "Como assim?" Ela respondeu colocando o pezinho na frente da boca do velho: "Abre a boca." Assim ele o fez, e ela colocou seu pé dentro da boca do velho. "Sinta o gosto. Chupa meus dedinhos." O velho lambia a sola e chupava os dedinhos suados de Mariana, um gosto salgado na boca, porém mais doce do que qualquer outro doce que o velho já experimentara em sua vida, mais doce do que qualquer doce de dona Lourdes da cantina. O velho lambeu a sola e chupava os dedos dos pés da moça como se fosse a melhor coisa que provou em sua vida.

Então, ele perdeu a timidez e a vergonha e confessou à estudante, nesse momento sem medo, sem pensar em perder o emprego ou acontecer qualquer punição contra ele. Nem sem emprego,  nem nada, nem todo o trabalho que havia feito na vida era mais importante do que sentir o gosto divino dos pés suados de Mariana. E então, tirou o pezinho dela de sua boca de maneira bem delicada, e com a voz trêmula e fraca confessou:

"É o melhor gosto do mundo Mariana, muito obrigado, é o melhor cheiro mundo, seu pezinho é a joia mais preciosa que já encontrei na minha vida. Muito obrigado por me proporcionar isso. Eu não tenho como agradecer."

Ela deu um belo sorriso e disse ao velho "Por nada, Seu Adamastor."

E então ordenou a ele: "Deita aí no chão, deita de barriga pra cima."

Ele obedeceu. E ela continuou: "Já que acha meus pés bonitos e  gosta do cheiro e do gosto dos meus pés, te agradecendo pela massagem, que eu adorei, vou deixar você admirá-los mais de perto." E falando isso, colocou os dois pés na cara do velho que estava deitado no chão. O cheiro ainda estava forte e ele cheirava com gosto. O velho, nesse momento era transportado a uma outra dimensão alheia a ele, e sentindo sensações que não sentia no seu dia-a-dia. É seguro afirmar que ele saíra do seu purgatório habitual e estava agora no paraíso. A felicidade do pobre velho era tanta que naquele momento ele não era mais um pobre velho. Apenas um velho feliz. Foi tanta felicidade que seu corpo não resistiu.

                                              FIM

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